quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

APERITIVOS

Com excessões aqui e ali, acabou a paixão do carioca médio pelo calor. Estava demais. Praias, cervejas, bagunças... O que era diversão foi restrito a fugas com sorrisos amarelos. Aquela tentativa de ressurreição pálida com o paramédico desesperançoso usando desfibriladores. Faz a parte dele torcendo pelo melhor.
Semanas incessantes de um inferno de temperaturas crescentes, a gente já sente o gosto de sal no ar. Um tanto demais. Suportamos o caos e o calor. Mas nunca a combinação.
Uma senhora tomba na esquina da Rua da Assembléia. Jota Frost a socorre.
- Esbarrou em mim.
- A senhora tropeçou. Te ajudo...
- Foi um esbarrão. “Ele” esbarrou em mim.
- Pronto, levantei. Tá bem pra andar? Quer uma água?
- Perfeito. “Eles” odeiam água. Pode ir comigo até o metrô?
- Claro, senhora, é logo ali. :)
 - Agora não, que um deles vai passar.
- Um... quem?
- Estão em outra frequência, vc não vê. São imeeensos!
- Como? (Eita, a blusa dela tá rasgada atrás...)
- Eles dividem esses espaços com a gente há muito tempo. Estão se descuidando nesse verão.
- ??? Podemos ir, senhora? (Caramba tem 4 cicatrizes nas costas dela!)
- Qual seu nome, minino?
- É… Frost.
- Frost? De gelo? Hahahaha!
- É… (Nossa, sabe inglês?)
- Falo oito línguas, minino…
- EITA!
- Me ajuda com a bolsa?
- Sim, Sim.
- Obrigada. Láa no horizonte, tem dois desviando as nuvens de chuva, tá vendo?
- Ah, tem umas sombras… (Putz, dona…na boa...)
- Eles não gostam mais de comida crua. São civilizados, sofisticados. Limpam a boca, usam talheres…
- Higiene é importante, rs…
- AAAhhh, minino! Vc acha que esse calor todo é ao acaso? Não entendeu ainda? Não tá sentindo cheiro de nada?
- Só de comida…
- E o que isso te diz?
- Nada. tem Bobs ali, restaurante do lado… normal. Aqui senhora, chegamos no metrô, aqui tá escada :)
- Desce comigo. Pro seu bem. Pra sua proteção.
- Como?
- As marcas em minhas costas são de garfo, Frost. Eu escapei.
- Tá de sacanagem, senhora? (Poha, tô com medo.)
- Olha pras pessoas aglomeradas nessa hora do rush. Todas irritadas e cansadas demais pra se defenderem. Hoje “ELES” vieram com muito mais fome. Não vão mais pegar apenas moradores de rua que ninguém se importa. Fomos assados, salgados. Esse cheio no ar não vem do BOBs, minino. É o tempero que “ELES” jogaram das nuvens. Vai se um banquete.
- O QUÊ?!
- Estamos... no ponto.
-
Borrões que eram os corpos das pessoas puxados pra cima é o que se consegue ver quando a senhora puxa Frost escada abaixo. Há gritos onipresentes e estrondos do lado de fora. Durante meio segundo Frost vê a silhueta de um garfo atingindo a senhora. A energia da estação é interrompida. Muito depois ainda em meio ao breu, se houve o barulho da chuva… Frost sabe que pode sair.
--
Participação como personagem de Jota Frost ;)

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

DESAPARECIDOS

Não encontro mais no supermercado: desodorantes de plástico flexível mesmo, destes que a gente aperta e faz "schhint!" e custam menos de R$6,00. Agora todos são de metal com embalagem futurista. Parece que se eu girar a tampa de um, ativa o sabre de luz. Outro é cheio de reentrâncias e estágios de construção. Se eu pressiono, vira robô? E todos oferecem "proteção" 24 ou 48 horas. 
Cara, moro na baixada e trabalho na entrada da Maré (RJ). 
Posso encher meu corpo dessa "proteção" e vou continuar me atirando no chão quando os tiros começarem.
Tá, tá, eu sei que é contra bactérias. 
Mas a pessoa que nesse calor infernal não toma vários banhos em 24 ou surreais 48 horas merece a misericórdia de uma criogenia. E os preços: R$17,00... R$19,00...
Crueldade.
Levei um "decepticon" por R$14,00.

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

QUESTÃO TRIBUNAL


- Esse cara é um bacaca! BABACA, meritíssimo!

- Sr. Kaskuda, dispensou advogado pra fazer sua própria defesa e tudo que produziu até agora foram ofensas.
- Não é ofensa! Descrevo a verdade! Um imbecil! Babacão!
- Meritíssimo, posso?
- Sim, Srta. Aden. A palavra é sua.
- A acusação percebe que o Sr. Kaskuda não entende ou não quer entender a realidade de sua condição. Meu cliente pede que a restrição ao Sr. Kaskuda sobre sua casa seja ampliada de 500 metros pra 50 mil quilômetros.
- Eu ficar 50 mil qui... ABSURDO! Mocinha, eu sou uma barata! Fico DENTRO da casa das pessoas. Sou incisivo, causo nervoso. Sigo a lei. Pela lei, só páro de for obliterado.
- O senhor FOI obliterado, Sr. Kaskuda. Foi atingido em cheio por um chinelo.
- Nem senti!
- Lembro meritíssimo, que meu cliente calça 44. Não teve erro.
- Queridinha, nós baratas sobrevivemos à uma explosão nuclear! Sabe o que é isso?
- Sim, Sr. Kaskuda. Todos sabemos. Mas ninguém sobrevive à explosão. É um equívoco popular. Vcs na verdade são resistentes à radiação e só.
- Seu cliente é resistente à radiação?
- Meritíssimo, toda noite por semanas meu cliente, Sr. Urbano continua recebendo visitas incômodas do Sr. Kaskuda nessa forma incorpórea. Daí não adiantam chinelos, inseticidas... E é contra a lei. Nós da acusação creditamos não ser necessário explicar a recusa do Sr. Kaskuda. Seu comportamento fala por si.
- Esse sotaque de mineirinha... Já entendi o que tá havendo aqui. É discriminação porque sou uma Barata branca, né? O machão ali não aguenta né? Hahaha! É isso!
- O senhor não é uma barata branca, Sr. Kaskuda.
- Tô eu aqui ó: BRANCO!
- Meritíssimo, aqui estão as fotos que meu cliente tirou do cadáver CASTANHO do Sr. Kaskuda após ser atingido pelo chinelão.
- Mostre ao senhor Kaskuda, Aden.
- Isso aê? Ô juíz, Urbano trabalha com Photoshop, seu Juiz! Essa cabeça esmagada aí nem parece a mi... Oh!
- Entendeu sua condição, Senhor Kaskuda?
- Isso é um engano! Um engano! Essa luz! Socorr...
- A corte encerra.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

VÁRIOS DELES!

- Alô, Felipe?
- Engano moça. Ligou errado. (Putz, eu tava dormindo.)
- Ah tá, desculpa.
- Alô, Felipe?
- Olá, moça. Não me transformei em Felipe nos últimos 10 segundos.
- Liguei errado, desculpa.
- Alô, gostaria de falar com Felipe!
- Não estou te impedindo.
- Gostaria de falar com Felipe!
- Realize seu desejo ligando pra ele.
- Alô, Felipe?
- Olá, como vai?
- Você não é Felipe. Qual seu nome?
- Murphy.
- O Felipe tá aí do seu lado?
- Sim. Vários deles!
- Qual seu nome?
- Heisenberg.
- Não entendi. Olha, vem me buscar de carro, tô cheia de bolsa de compra.
- Não. Se vc quiser, que compre seu próprio DeLorean da Hot Wheels.
- Alô, Felipe?
- Sim! Aqui é Felipe pro seu prazer. Fique aí exatamente onde está que tô indo buscar você. Pode ser que eu demore um pouquinho.

domingo, 8 de janeiro de 2017

MIOPIA

E com 6 graus de miopia tive de tirar os óculos na volta pra casa porque o metal aqueceu a ponto de queimar minha orelhas. E que estranho... Não bastasse a dificuldade pra abrir a porta, esse computador nem parece o meu... Nem essa sala, aliás... Por que essa moça tá gritando?

sábado, 7 de janeiro de 2017

SEM JEITO

Nenhum talento pra mentir. Cobrador pergunta se tem moeda pra facilitar o troco e eu tenho, mas como guardo pra máquina de café, respondo o "não tenho" mais falso do mundo. Tu vê as expressões do cara torcendo de raiva porque passei dois continentes de convencer alguém. Foi mal..

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

CADÊ O DIABO DESSE DIÁRIO?

Calma: Não há diabo algum aqui! Falo a respeito de sempre carregarmos um problema conosco ou ele estar esperando por nós em qualquer embarque. Viver se transformou em resolverNessa página coloco uma seleção de textos de humor baseados no dia a dia. Alguns bizarramente reais. No espaço haverá também uns ensaios de paixão por contos mais sérios e, por fim, meu projeto de histórias onde o leitor participa como personagem.
Escapa pra cá!

QUEM?

Meu nome é Urbano. Sou autor, ilustrador, editor de arte... E capitão da nave Atmosphera! Uma webcomic tão legal, mas que demanda um tempo pra desenhar quase proibitivo. Escrever é mais fácil e o dia a dia praticamente invoca dizer alguma coisa tão corriqueira com uma pitada do atraente insólito. Motivado por tanto retorno de leitores, começo o Diário... Diabo de Bordo.